PÉROLAS

HISTÓRIAS DO IMAGINÁRIO POPULAR DE POÇO BRANCO

O GAGO

No tempo das “vacas magras” somente Nelson Bento fazia um frete, em Poço Branco. Mas dependia se ele já não estivesse ébrio... Eis que, numa noite de sábado, Festa de Reis, em Taipu, uma turma de liso (entre eles, eu) queria chegar cedo ao Batistão Clube. Nelson Bento se encontrava no Cabo da Faca, um bar local, curtindo a noitada... Muita chuva e trovão atravessavam a noite poçobranquense e nem mesmo Itamar Bililico, acostumado a ir a pé pra todo canto, tinha coragem de enfrentar a escuridão e a chuva forte. O jeito era acordar o caminhoneiro Raimundo Gago. E rezar pra ele nos atender. Ailson de Lalada e Jailson Caxiado correram pra casa do Gago e logo lhe pediram, de joelhos, para fretar o seu caminhão. O Gago disse umas duzentas palavras e os cabras não entenderam nada. Solução: os dois foram acordar Toinho de Maria Viúva para ser o intérprete na conversa. Quem conhece Toinho sabe por que a viagem deu certo...

MIGUEL VITOR

Este foi um dos caçadores mais premiados de Poço Branco. Numa de suas caçadas, Miguel Vitor afirmou que levou sua espingarda de soca e munição para caçar na lagoa da prefeitura - ali do lado do campo da barragem. O inverno estava bom e o local estava “florado de rolinhas”. E Miguel explicou:
- Rapaz, era tanta rolinha que eu rodava a espingarda e era só “bum, bum, bum, bum...”.
Então um gaiato perguntou a Miguel:
- Miguel e você não carregava a espingarda?
E ele respondeu: “não dava tempo não, meu fio... Era só mirar e apertar o gatilho que caía rolinha pra todo lado...”.
Lá pras tantas, Miguel contou que já com o bornar cheio percebeu que restavam apenas uns 40 caroços de chumbo. Como já estava tarde, Miguel resolveu arriscar o último tiro. Andou, andou, andou e encontrou na beira da lagoa, exatamente, 40 rolinhas. Miguel não contou conversa: mirou na primeira rolinha e deu uma rajada só...
Miguel foi conferir e contou 39 rolinhas alvejadas pelo último tiro de sua espingarda e disse:
- Tá bom demais, homi. Só perdi uma...
Dois dias depois, Miguel Vitor contou que estava na janela de casa e, de repente, escutou aquele zunido: “zum, zum, zum, zum...”. Correu pra fora e viu o último caroço de chumbo ainda correndo atrás da última rolinha.

MANOEL ROSENDO

O Sr. Manoel Rosendo não dirigia seu Chevrolet/58 (com duas boléias) há muitos anos, mas era metido a mecânico, pois os pregos nas estradas eram constantes. No caminho pro Inhandú o carrão quebrou e, já perdendo a paciência, o velho pediu uma chave 9/16 a seu neto (Lula Rosendo). Lula dirigia para o avô, pegou uma chave 5/16 e passou para o avô.
- “Não, essa não“, irritou-se Seu Manoel.
Lula, teimoso que era disse:
- Homi, isso é a mesma coisa.
O velho perdeu as estribeiras e partiu para a ignorância:
- A mesma coisa é uma estaca melada no meio e cagada nas duas pontas.
Ali mesmo, a discussão acabou.

OS TABOCAS

A origem do nome Taboca, tradicional família da cidade, está no livro de Raimundo Caxiado. Sempre houve controvérsias neste sentido, mas, segundo o poçobranquense Levi Pinheiro, o saudoso Raimundo Caxiado contava que, lá pelos anos de 1900, quando Poço Branco Velho ainda estava surgindo, o patriarca da família (Tabocão) vinha de Taipu com uma tropa de burros juntamente com sua esposa. Ao chegar próximo da pedra da mina, em Poço Branco Velho, o burro que puxava a comitiva se assustou e caiu de cima de algumas pedras (mais ou menos uns seis metros de altura). O véio caiu só o projeto lá embaixo... E, lá de cima das pedras, a véia disse:
- Ôh tabocada segura da mulesta...

PEREIRINHA

O ex-vereador Antonio Pereira (Pereirinha) chegou ao antigo Restaurante de Oneide Silva, no Comércio, suando e aperreado demais. E Oneide lhe perguntou:
- Seu Antonio, o que houve? O senhor está bem?
E Pereirinha respondeu:
- Oneide, rapaz, tava tudo certim. Aí o danado do ‘terrenié’ (o TRE) ‘empanzinou’ minha canidatura, rapaz...

José Francisco de Souza (Zé Igapó) era o prefeito de Poço Branco quando o governo do estado, finalmente, inaugurou “a Água de Poço Branco”. O ano de 1981 começava e a população ainda se recuperava das grandes secas de anos anteriores. Acompanhado de uma grande comitiva, o governador do estado, Lavoisier Maia Sobrinho, chegou à casa de Zé Igapó e logo avistou o vereador Antonio Pereirinha. Lavô, sempre muito político nas suas falas, foi perguntando:
- Pereirinha, como vai a zona rural?.
O vereador também não titubeou e disse:
- Governador, a zona eu deixei... E o diabo daquela rural véia eu vendi a João Bevenuto.

O CABO FÉLIX

O Cabo Félix, pai do ex-vereador Luiz Félix, comprou um pick-up 1954 e, quando saía para pescar, sempre levava Dedé Pintinho, outro de seus filhos, em cima da carroceria - junto com as varas para pescar. A pick-up do Cabo era tão ‘ligeira‘ que o reflexo das luzes dos postes não a acompanhavam. PAra você ter uma idéia da velocidade do carro, as varas de pescar iam batendo nas casas da avenida Manoel Rodrigues, causando “o maior estralado do mundo...”. Cabo Félix também era jogador de futebol. Quando morou em Lajes-RN, cansou de bater o escanteio, correr para área e fazer o gol de cabeça. Dizem que, quando estava com raiva, cansou de chutar a bola do jogo no Pico do Cabugi. Por aqui, quando a única quadra de esportes do município era a do acampamento da firma, o Cabo, varias vezes, repetia o mau costume: chutava as bolas pra dentro do açude. Uma vez, o Cabo deu um bico numa bola e, quinze dias depois, recebeu em sua casa uma intimação para comparecer a delegacia da cidade. Motivo: quebrou duas janelas de vidro da fazenda de Tamires Miranda, lá do outro lado do açude.

MARCOS MIRANDA

Marcos Miranda não era nenhum Cabo Félix. Mas quando o time da Ponte Preta da Acauã inaugurou o seu campo, convidaram o Sanelândia EC para a partida inaugural. Estavam presentes a festa o então prefeito da cidade (Déco), vereadores, políticos e autoridades locais. No carro de som de Joãozinho Cruz, Veinho Salustino fazia a locução do jogo. Eis que apareceu uma falta na entrada da grande área da Ponte Preta e Marcos, “ignorante” nos chutes, pegou a bola para cobrar a falta. A sua fama de boleiro era a seguinte: chutava forte, muito forte, mas o seu aproveitamento não era bom. Dizia-se que, se a bola fosse em direção ao gol, podiam sair pro abraço. O juiz da partida, Vital da Acauã, autorizou a cobrança e Marcos Miranda encheu o pé... A bola, que era a única do jogo, foi bater no telhado da fazenda de Seu Lucas Mateus. Aí o bicho pegou porque a turma da Acauã “pegou ar” ligeirinho. Vital disse logo: “Ei menino. Você veio aqui pra jogar ou pra bagunçar? Pode ir buscar a bola”. E Marcos, que não era bobo, foi buscar a bola caladinho, caladinho...

ARLINDO SIMIÃO

Quando Robinho (Milan-ITA) mostrou a famosa pedalada, Arlindo Simião já era uma fera nessa habilidade. Certa vez, num jogo no Contador, Arlindo foi dar um drible no Negão Benedito - zagueiro do Flamengo. Ele fez “aquele passar de pernas sobre a bola” umas cinco vezes e Benedito não contou conversa: deu-lhe um belo chute no traseiro. Já caído, Arlindo perguntou ao negão por que tanta violência e Benedito respondeu: “caba sem vergonhe, pra passar por mim precisa dessa frescura toda?”. Arlindo pediu ao juiz da partida, Mané Ciço, um cartão para o zagueiro do Flamengo pela falta e pelos palavrões ditos. E Mané Ciço deu-lhe um cartão vermelho pela reclamação...

O CARA

Uma vaca braba tava dando trabalho no matadouro municipal e ninguém conseguia tirá-la do curral pra fazer o abate. Mandaram chamar “O Cara”. Ele resolveu a parada botando os pés nas costas da vaca, deitando-se e dando ‘um balão’ na vaca. Na infância, “O Cara” pegou uma briga com Geraldinho Gonçalo que durou três horas. "O Cara" era uma fera no karatê e Geraldinho se dizia mestre de capoeira, formado na Bahia. No final, ele saiu com apenas uma unha arranhada e Geraldinho todo quebrado... O que causou o arranhão na unha do “Cara“? Até hoje, o inquérito policial nada concluiu.

O primeiro automóvel que apareceu em Poço Branco pertencia ao comerciante Vicente Cruz. Num domingo de feira, em Taipu, o caminhão de Vicente voltava para Poço Branco Velho e tombou numa curva. O único que saiu ileso foi “O Cara”, graças a sua agilidade de karateca. Deu três saltos mortais e caiu em pé. Durante a construção da Barragem de Poço Branco, o engenheiro Valban de Farias estava se banhando nas águas do açude e começou a se afogar. Por sorte, “O Cara” estava presente e nadou mais de dois quilômetros com o Dr. Valban nas costas.

Ainda na construção da barragem, “O Cara” foi chamado pela equipe da construtora Nóbrega & Machado para resgatar uma peça (de um guindaste) que havia caído próximo à torre das comportas. Três mergulhadores da construtora estavam, há mais de cinco horas, tentando retirar a peça (de uns 35 kg) do fundo do rio. “O Cara” pediu licença e foi em casa vestir um ‘short especial’ de mergulho (que ele tinha recebido de presente). Mergulhou e, após quinze minutos, quando todos já achavam que já estava morto, eis que “O Cara” surgiu com a peça nas costas. Foi assim...

Segundo Nelson Baía, um ex-cunhado do “Cara”, que esteve em 2009 em Poço Branco, contou uma história, no mínimo, “cabeluda” (não foi “O Cara” o autor da façanha e sim o seu cunhado). O cunhado do “Cara” perdeu uma aliança, ao tomar banho no açude, e a chance de casar com a irmã do “Cara”. O casamento foi desfeito, mas, um ano depois, “O Cara” pescou um peixe (um bebeu) e achou a aliança no estômago do peixe. Não dava mais tempo casar...

LUIZ DO BODE

O comerciante Luiz de Almeida (Luiz do Bode) chegou à Poço Branco no final dos anos 50 e logo se tornou um dos mais bem sucedidos comerciantes da cidade. Luiz sempre cuidou de seu estabelecimento com muito zelo e dedicação, todo mundo sabe disso. Mas, em 1990, uma denúncia levou três fiscais da vigilância sanitária estadual a sua bodega. Na ocasião, estavam Luiz e dois clientes e os fiscais foram chegando e tirando medidas do local, fazendo anotações, olhando para o telhado... Entraram na casa de morada de Luiz pra saber se ele vendia comida no estabelecimento, mas nunca pediram licença - coisas da ditadura militar, talvez. Passados uns quarenta minutos, eis que um dos fiscais perguntou em voz alta:
- Quem é o dono disso aqui?
Luiz, respondeu com a ‘calma afobada’ que só ele tinha:
- Pelo jeito que chegaram aqui eu acho que são vocês três.
E nada mais foi perguntado ou anotado.

JOÃO BEVENUTO

Seu João Bevenuto colava, nas paredes de seu Bar, uma temível lista de velhacos. Quem comprava fiado e não pagava, ia pra lista e, uma vez nela, a moral do comprador não existia mais. Era normal aparecer as iniciais FP para a clientela que demorava a saldar a conta. Quando o cabra pagava tudo, FP significava ‘FIM DA PONTA‘. Se o cliente pagava uma parte, FP significava ‘FALTA PAGAR‘. Mas quando o cliente desaparecia sem deixar rastros, as iniciais FP apareciam em vermelho e significavam ‘FELA DA P...’.

DOCE DE AUGUSTO PRETO

Doce era um pinguço respeitado e tarimbado na Pitu. Bebia todo santo-dia. Seus pais também veneravam a destilada e quando ‘arriava’ apenas alguns vizinhos levaram o rapaz para a Maternidade. Geralmente Doce recebia Soro e, depois da rápida internação, corria pra tomar uma. Numa dessas visitas a Maternidade o médico plantonista, Dr. Luiz Carlos, aconselhou que Doce fizesse alguns exames. Quando recebeu os resultados, Doce foi mostrar a papelada ao médico. O paciente estava ansioso pelo resultado pra saber se já podia tomar a primeira do dia. O médico passava o visto nos exames e dizia:
- Não tem nada, não tem nada, não tem nada...
Então Doce, com um brilho de felicidade nos olhos, perguntou:
- Doutor, eu não tenho nada?
E o médico foi taxativo:
- Não. Não tem mais fígado, não tem mais rins e o pulmão está se acabando.

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